terça-feira, 7 de julho de 2015

O Livro ou O Filme? (#3) "The Perks Of Being A Wallflower" Stephen Chobsky


Título: The Perks Of Being A Wallflower
Autor: Stephen Chobsky


Título em Portugal: As Vantagens de Ser Invisível
Realização: Stephen Chobsky
Elenco: Logan Lerman, Emma Watson, Ezra Miller, Kate Walsh, Dylan McDermott, Paul Rudd

Primeiro que tudo, como é possível que este livro não tem (pelo menos até agora) uma edição portuguesa? Ainda para mais já havendo um filme que, mesmo tendo outros pontos de interesse, bastaria o facto de nele entrar Emma Watson, numa das suas primeiras incursões pós-Harry Potter, para suscitar curiosidade. É tão comum que surjam edições em Portugal quando certos livros são adaptados ao cinema, que é bastante frustrante que tal não tenha sido feito neste caso. 

Este foi um caso em que primeiro vi o filme e depois quis ler o livro, tendo apenas encontrado edições em inglês. O livro foi editado em 1999 e o filme é de 2012 e tem a particularidade de ter sido realizado pelo autor do livro, Stephen Chobsky, daí que adaptação cinematográfica seja bastante fiel à obra.

Trata-se de um romance epistolar constituído por cartas que o protagonista a alguém não identificado que ele trata por amigo. A acção passa-se entre 1991 e 1992.  
Charlie é um tímido rapaz de 15 anos, apaixonado pela leitura, que entra para o liceu mas tem algumas dificuldades em socializar, até porque o seu melhor amigo suicidou-se uns meses antes.
Eventualmente acaba por travar amizade com dois meios-irmãos, o Patrick, que mantém uma relação secreta com um popular aluno jogador de futebol americano, e a Sam, por quem Charlie tem de imediato um fraquinho. Através deles, Charlie acaba por se integrar num círculo de amigos e a fazer parte das suas divertidas actividades, como actuações ao vivo durante sessões de "Rocky Horror Motion Picture Show". É aí que Charlie tem as suas primeiras experiências com álcool, tabaco e drogas leves. Por entre todas as emoções que experimenta ao fazer parte desse grupo, Charlie vê-se numa espécie de namoro com outra rapariga do grupo, Mary Elizabeth, uma relação em que ele não se sente confortável mas que receia confrontar, culminando num deslize que quase o faz perder as amizades que estabelecera. Porém, após ajudar Patrick numa briga com o ex-namorado, que nunca assumiu a relação e o ofendeu publicamente, Charlie volta a integrar-se no grupo. 
Enquanto isso, Charlie vai estabelecendo uma amizade paralela com o professor de literatura e redefinindo a ligação que tem com a sua família. Porém, após um momento mais íntimo com Sam, Charlie vê-se confrontado com uma terrível memória do passado, envolvendo uma tia falecida. Contudo, com o apoio da família, dos amigos e de uma psiquiatra, Charlie consegue superar o trauma e encarar o futuro.

Como já disse, o filme é uma adaptação fiel da obra, ou não tivesse sido realizado pelo próprio autor. A principal diferença é que o filme decidiu explorar mais a relação de Charlie com Sam e Patrick do que com os seus familiares ou com o professor. Por exemplo, no livro existem algumas cenas com outros membros da família que não os pais ou os irmãos. Também ficou de fora uma cena do livro que eu achei particularmente marcante quando Charlie e Patrick vão a um parque onde homens têm encontros furtivos, onde aí Charlie é abordado por apresentador famoso e Patrick faz uma chocante descoberta, mas compreendo que essa cena tenha sido deixada de fora para não afectar a classificação etária, bem como alguma moderação do conteúdo mais sexual e psicotrópico do livro.

O filme está bem conseguido, com interpretações seguras de todo o elenco dos mais jovens aos mais veteranos, com óbvio destaque para o trio protagonista composto por Logan Lerman, Emma Watson e Ezra Miller. Gostei também imenso a forma como o filme captura bem a essência de crescer no início dos anos 90, um período que muita gente, incluindo eu, recorda de forma vívida mas que a esta distância parece já tão longíquo, quando não havia internet, os telemóveis eram raros e inacessíveis e as mixtapes eram um hábito comum entre os adolescentes. 

Mas tenho de dizer que gostei ainda mais do livro. Adorei a forma como através da escrita Charlie vai narrando as suas experiências, os sentimentos e o desenrolar do seu relacionamento com os amigos e a família e a forma como ele vai gradualmente evoluindo de um rapaz tímido, taciturno e sem iniciativa em alguém positivo, afirmativo e confiante. É graças a essa transformação, forjada sobretudo através do poder da amizade, que ele consegue superar o seu confronto com os demónios do passado.

Portanto, mais uma vez, gostei imenso tanto do livro como do filme, mas o meu veredicto vai para o livro.