Título: Lágrima
Autor: André Pereira
Editora: Chiado Editora
Esta é a minha resenha que resulta da parceria deste blogue com a Chiado Editora, que me amavelmente cederam-me um exemplar deste livro. Pelo que pude apurar, é o segundo livro de André Pereira, um escritor natural de Leiria, que em 2014 publicara "Pequenas Estórias de Muitas Vidas", que como o nome indica, é uma colecção de pequenas histórias, pelo que "Lágrima" é o seu primeiro romance.
Não sabia o que esperar deste livro, a sinopse era interessante mas não revelava muito, mas a verdade é que gostei bastante.
A história de "Lágrima" é bastante simples: numa aldeia pequena como tantas espalhadas por esse Portugal fora, Tomás falece após ter vivido doze anos penosos, marcados pela sua debilidade física e mental, pelo desprezo e indiferença dos outros e pela deterioração do outrora apaixonado casamento dos seus pais. Após a sua morte, os pais, Clara e Afonso reagem de maneiras diferentes: como esperado, Clara, a mãe, chora e cai numa espiral de sofrimento, depressão e descrença; já o pai, Afonso, para surpresa de todos, incluindo ele próprio, começa a rir durante o enterro do filho. Transtornado por sentir essa bizarra felicidade quando deveria - e queria - sentir a tristeza de perder um filho, e repudiado por todos na aldeia devido a essa reacção, Afonso deixa tudo em busca da tristeza que não sente. Tanto o caminho de Clara de regresso à vida, como de Afonso em busca de redenção, será duro e tortuoso e só terminará quando, de uma maneira inesperada, os caminhos de ambos voltarem a se cruzar.
Apesar da escrita e a estrutura não serem as mais convencionais, a verdade é que "Lágrima" foi uma leitura bastante fluída, com um ritmo consistente e sem passagens supérfluas. Cada frase, por mais inesperada que seja, tem a sua razão de ser no livro e uma razão para ter aquela construção.
Mas o principal mérito de "Lágrima" é conseguir, na simplicidade da sua história, capturar todo um microcosmos como tantos que existem pelo país fora: as suas paixões, as suas raivas, os velhos rancores, as discriminações, os julgamentos pelas aparências e pelo superficial, a velha preocupação sobre aquilo que os outros vão pensar, a condenação dos vícios públicos, a vista grossa ao vícios privados e as mentalidade que só muito lentamente vão evoluindo. Tem graça como a história tanto parece passar há umas décadas atrás como não custaria muito a crer se tivesse lugar na actualidade.
Gostei muito de descobrir este livro e espero vir a ler mais coisas do seu autor.
Paulo, deparei-me agora com as tuas palavras. Muito obrigado por elas. Um abraço,
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