quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

O Livro ou o Filme (#5): As Cinquenta Sombras de Grey


Autora: E.L. James
Editora: Lua de Papel


Realização: Sam Taylor-Johnson
Argumento: Kelly Marcel
Elenco: Dakota Johnson, Jamie Dornan, Marcia Gay Harden, Max Martini, Eloise Mumford

Creio que não vale a pena explicar a história pois mesmo quem nunca leu o livro ou viu o filme saberá mais ou menos a história. E vou ser assaz directo quanto ao veredicto: na minha opinião, o filme, não sendo excelente, é bastante melhor que o livro. Sim, podem dar-me com a chibata. 

Eu li "As Cinquenta Sombras De Grey" (ainda só o primeiro volume)  na biblioteca e concordo com as principais críticas apontadas: a escrita rudimentar, fraca construção dos protagonistas e o raio da Deusa Interior não se aguenta de tão irritante. No entanto, também entendo como o livro tornou-se um caso de algo tão mau, tão mau que dá a volta e fica interessante. Existe uma ideia que tem o seu interesse, o problema é que poderia ter sido muito melhor desenvolvida. (O facto de ter começado como fan fiction não ajudou.)
E pelo menos, serviu para demonstrar que o grande público tinha interesse em ler livros de temática sexual sem ser julgado por isso. E concordo que o sexo, em todas as suas vertentes, é um tema bastante válido para ser explorado na literatura.       

Posto isto, achei que a adaptação do filme está bem conseguida, dada a matéria-prima. Dificilmente poderia sair algo melhor partindo de onde partiu. Existem quatro factores em particular que me fizeram apreciar o filme. 
Primeiro, porque embora tivesse, admito, bastante curiosidade em ver o filme, tinha ido com as expectativas muito em baixo. Talvez por não estar à espera de grande coisa, acabei por ser surpreendido. Achei que houve um esforço para conferir alguma dignidade à história, para evitar a vulgaridade e de facto achei que a abordagem não foi vulgar. Embora as cenas de sexo tenham estado no limite résvés do que um filme de Hollywood pode permitir, não é de todo território pornográfico.
Segundo, porque resolvi encarar o filme como uma comédia. A partir da cena em que Anastasia cai no escritório de Christian, resolvi olhar para a história em busca de elementos cómicos e existem bastantes, pelo menos nos dois primeiros terços do filme. Também acho que o filme também procurou explorar essa vertente de humor, além de algumas analogia a Crepúsculo, por razões óbvias. 
Terceiro, gostei muito mais da Anastasia do filme do que da Anastasia do livro. Além de não ser irritante, a Anastasia Steele encarnada por Dakota Johnson deixa bem claro que é frágil e ingénua e não fraca e ignorante. Johnson esforça-se por mostrar tanto a vulnerabilidade e o desejo da protagonista como a sua força interior e que ao longo da história, o poder vai passando gradualmente de estar todo nas mãos de Grey para estar sobretudo nas mãos de Anastasia.
Quarto, os aspectos técnicos estão muito bons: a cenografia, os décors, o guarda-roupa, mas sobretudo a fotografia, em especial no jogo entre as cores neutras (branco e o inevitável cinzento) com cores mais quentes, e a banda sonora. Não só as canções estão bem escolhidas (Ellie Goulding, Sia, Beyoncé, Vaults, Annie Lennox, Awolnation) como cada uma ilustra bem a cena onde é utilizada, o mesmo se sucedendo com a partitura de Danny Elfman.

Entre os aspectos menos positivos, gostei menos do desempenho de Jamie Dornan com Christian Grey. Na minha ideia, creio que a personagem devia ter sido mais intimidativa e achei o desempenho de Dornan demasiado, digamos, simpático e também acho que poderia ter sido mais expressivo na sua inexpressividade (porque por vezes a ausência de emoção pode também ser uma emoção). Só na sequência final e na cena em que faz uma revelação do passado é que Dornan esteve melhorzito.  
Nenhum dos actores secundários se destacou para mim, à excepção em certos momentos de Eloise Mumford no papel de Kate e de Max Martini como Taylor, o motorista. 
Também acho que química entre Dornan e Johnson não é avassaladora, apenas a suficiente para resultar e que as cenas envolvendo práticas de BDSM teriam sido melhores se tivessem tido um pouco mais de seriedade, sobretudo a primeira pareceu-me demasiado brincalhona.

Por isso, e pelo que já referi está claro. Por mim, a versão em filme de "As Cinquenta Sombras de Grey" é a versão superior.                




sábado, 23 de janeiro de 2016

"A Hora Mágica" Kristin Hannah


Título: A Hora Mágica
Autora: Kristin Hannah
Editora: Bertrand

Recebi este livro no Natal como presente do meu irmão. Eu já tinha ouvido falar desta autora mas nunca tive curiosidade em ler algo dela, porém este foi um óptimo começo. 

Em "A Hora Mágica", conta-se a história de uma menina de seis anos que é encontrada numa floresta do estado de Washington. A menina revela capacidades invulgares como subir rapidamente às árvores mas não parece ser capaz de comunicar, o que dificulta saber a sua identidade. Mas o pior é que ela traz consigo marcas de violenta tortura. Na esperança de conseguir descobrir mais sobre a pequena, Ellie Barton, a chefe da polícia da pequena cidade onde ela foi encontrada, pede ajuda à sua irmã, Julia.

Julia Cates era uma famosa pedopsiquiatra em Los Angeles mas a sua carreira é arruinada devido a um terrível acontecimento: uma das suas pacientes matou quatro colegas, suicidando-se depois e os media e as famílias das vítimas atacaram Julia como sendo a responsável por isso. Por isso, Julia não hesita em aceitar o pedido da irmã e regressar à terra natal para tentar perceber o que se passa com a menina selvagem e libertá-la da prisão do medo que a assola. Aos poucos, Julia vai ganhando a confiança da rapariga, a quem é dado o nome de Alice e as duas formam uma ligação muito especial que acaba por se assemelhar à de mãe e filha.
Além de Alice, Julia acaba também por fortalecer a relação com Ellie, após tanto tempo em que as duas irmãs estiveram afastadas e além das diferenças entre as duas que sempre impediram a proximidade entre ambas, e por aceitar, apesar das suas imensas reservas, o interesse de Max Cerrasin, o atraente médico do hospital local, também ele com inconfessáveis feridas do passado.
Mas quando a verdadeira de identidade de Alice é finalmente descoberta, Julia vê-se confrontada com um doloroso dilema.

Como já disse, foi uma boa iniciação na obra de Kristin Hannah. Já ouvi dizer que a obra dela é um bocado "hit and miss", tem uns livros muito bons e outros algo fracos, mas "A Hora Mágica" faz parte dos primeiros. A única coisa que achei menos positiva foi que algumas descrições como a da floresta foram demasiado longas. De resto, a história prendeu-me bastante, fazendo-me sentir à vez as frustrações de Julia para tentar comunicar com Alice e os medos que ainda atemorizam Alice muito depois da sua fuga. Aliás, as minhas passagens preferidas eram aquelas narradas pelo ponto de vista de Alice. Mas gostei também das outras personagens como Ellie (é giro vê-la a ser tão perspicaz no que toca aos outros e tão ignorante no que toca a ela), os seus ajudantes policiais Cal e Peanut, e Max.

Por esta história de amor fraterno e redenção e por ter sido um presente do meu irmão, posso afirmar que "A Hora Mágica" foi um dos meus melhores presentes deste último Natal.     

  

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

O Livro ou O Filme? (#4): Orgulho e Preconceito


Título: Orgulho e Preconceito
Autora: Jane Austen
Editora (do exemplar que eu tenho): Book It


Realização: Joe Wright
Argumento: Deborah Moggach
Elenco: Keira Knightley, Matthew McFaydden, Donald Sutherland, Brenda Blythen, Rosamund Pike, Carey Mulligan, Tom Hollander, Simon Woods, Rupert Friend, Judi Dench 

Eis um regresso a esta rubrica, desta vez para analisar a adaptação do clássico de Jane Austen, "Orgulho E Preconceito", porventura a obra mais famosa da escritora britânica. Até porque o exemplar do livro, uma edição económica da Book.It (actual Note) que eu possuo tem na capa a foto do cartaz do filme.

A história de "Orgulho e Preconceito", publicada pela primeira vez em 1813 é sobejamente conhecida e por isso vou resumi-la ao máximo: Elizabeth é a segunda de cinco filhas do casal Bennet, uma família da pequena burguesia rural inglesa. Uma vez que não tiveram um filho varão que possa herdar as terras da família, a Sra. Bennet vive em constante desespero para ver as filhas casadas, já que não poderão herdar nada. Charles Bingley, um jovem cavalheiro que se instala na redondezas, fica logo interessado em Jane, a filha mais velha, ao passo que o seu amigo Fitzwilliam Darcy deixa má impressão, sobretudo em Elizabeth. Envolvidos no meio de uma rede de mal-entendidos, Darcy e Elizabeth vão-se chocando até que por fim descobrem que a animosidade mútua se transformou em amor.

É fácil de perceber porque é que a obra continua a fascinar leitores mais de dois séculos depois. A obra de Austen notabiliza-se por uma escrita acessível, uma intriga cativante e uma subtil crítica aos costumes da sociedade inglesas do início do século XIX. Dito isto, não foi uma leitura muito fácil para mim, demorei um pouco a ligar-me à história, a identificar as muitas personagens e achei que havia algumas semi-contradições na descrição de personagens como por exemplo o Sr. Bennet e Lydia. (Mas talvez seja da tradução do exemplar, não sei). E também demorei algum tempo a gostar da Elizabeth: para uma rapariga tão astuta, achei-a demasiado repentina e selectiva nos seus julgamentos. E de quem não gostei nada foi da Sra. Bennet, percebe-se a aflição mas que mulherzinha mais histérica e superficial! Porém, na segunda metade do livro, a leitura foi mais agradável e fiquei vontade de ler mais de Jane Austen. (Tenho "A Abadia De Northanger", já li mais ou menos metade, mas por vários motivos, continua há muito tempo estacionado). 

Entre as várias adaptações da obra, destaca-se a da série da BBC de 1995 com Colin Firth no papel de Darcy. Diz-se que essa série (que não vi) será melhor e mais fiel ao livro, mas sou da opinião de que o filme de 2005 realizado por Joe Wright está também bem conseguido. Primeiro porque foi feito sobretudo para cativar os espectadores de cinema e como tal, recorre mais à linguagem cinematográfica do que à linguagem literária para contar a história. Segundo, porque a realização e o desempenho de todo o elenco impede o filme de cair na armadilha de se tornar algo demasiado xaroposo e incipiente. Terceiro, porque ao contrário da Elizabeth do livro, a Elizabeth encarnada por Keira Knightley (que foi nomeada para o Óscar) conseguiu cativar-me desde logo e Matthew McFaydden saiu-se bem a transmitir todas as contradições de sentimentos de Darcy que borbulham sob a sua pose aristocrática. Até Brenda Blythen tornou a sua Sra. Bennett mais divertida do que irritante. 



É claro que o livro tem mais que se lhe diga sobre a história mas acho que a inevitável condensação para o filme foi boa, pelo menos não achei que algo muito importante da história tenha ficado de fora. Porventura gostaria de ter visto alguma cena onde Mary, a irmã freak das Bennet e a personagem que por algum motivo mais me intrigou no livro, tivesse mais destaque. Também achei que certos planos embora bonitos artisticamente eram dispensáveis, como aquele em que Elizabeth olha-se ao espelho e forma-se um jogo de sombras à volta dela. Sim, a Keira Knightley é lindíssima e o seu rosto é sempre uma bela visão, mas talvez não fosse preciso tanto close-up dela.    

Claro que o livro é melhor, mas acho que o filme cumpre plenamente os seus objectivos: adaptar a história à linguagem cinematográfica e apresentar a obra a novas gerações.


terça-feira, 12 de janeiro de 2016

"Amo-te Como Eu Quero" João Firmino


Título: Amo-te Como Eu Quero
Autor: João Firmino
Editora: Chiado Editora

Outro livro que recebi no âmbito da minha parceria com a Chiado Editora, "Amo-Te Como Eu Quero" reúne um conjunto de crónicas e poemas, escritos entre 2010 e 2015, pelo autor, o escritor e músico João Firmino.

Trata-se de um conjunto de textos biográficos que revelam com sinceridade as lutas interiores do autor. Sendo este membro da comunidade LGBT, poder-se-ia pensar em primeira instância de que se iria abordar as dificuldades em sair do armário para assumir a sua orientação sexual e enfrentar os preconceitos sociais.  

No entanto, não é desse armário que este livro fala, mas sim de outros armários mais complexos e porventura mais angustiantes. E os temas abordados nas suas páginas são muito abrangentes e nos quais pessoas das diversas orientações sexuais se podem identificar: o amor não correspondido, a busca de uma identidade, os ciclos de esperanças e desilusões na vida e no amor, o sexo como forma de negação ou alternativa ao amor, a negação do amor e do desejo àqueles que já perderam a juventude.   

Foi uma leitura interessante, onde apreciei o tom intimista e franco do autor. Não gostei de todos os textos, alguns foram abstractos demais para o meu gosto pessoal. Gostei sobretudo daquele que dá título ao livro pelo seu jogo de espelhos ilusão/realidade e do último, "Obrigado Meu Amigo", onde o autor deixa transparecer que estará num lugar mais positivo da sua vida interior. 

domingo, 3 de janeiro de 2016

As minhas melhores leituras de 2015

Seis escolhas, por ordem aleatória:


"O Tempo Que Já Não Viverei" de Fabio Volo: dos quatro livros deste autor publicados em Portugal, só me faltava ler este. E uma vez mais, não me decepcionou e prendeu-me. Gostei ligeiramente mais dos outros três livros, mas ainda assim, óptima leitura. Ver opinião AQUI.



"Amei-te Em Copacabana" de Francisco Salgueiro: provavelmente o livro menos conhecido do autor, mas na minha opinião, um dos melhores. Adorei a viagem interior do protagonista e a abordagem desmistificadora à psicanálise. Ver opinião AQUI


"Lágrima" de André Pereira: um surpreendente início da parceria do meu blog com a Chiado Editora. Uma história simples mas profundamente comovedora. Ver opinião AQUI.


"Em Parte Incerta" de Gillian Flynn: mesmo já conhecendo o grande spoiler, uma leitura emocionante, mérito da escrita hipnótica da autora. Ver opinião AQUI.


"The Perks Of Being A Wallflower" de Stephen Chobsky: Adorei o filme e o livro foi um excelente complemento. Pena é que não haja edição portuguesa. Ver opinião sobre o livro e o filme AQUI


"Boycott - Stolen Dreams of the 1980 Moscow Olympic Games" de Tom e Jerry Caraccioli: dentro na não-ficção, claro destaque para este livro sobre os acontecimentos, causas e consequências do boicote americano aos Jogos Olímpicos de 1980 em Moscovo, enriquecido com os relatos na primeira pessoa de atletas que tiveram nesses Jogos a sua única oportunidade de realizar os seus sonhos olímpicos e que por razões políticas às quais eram totalmente alheios, foram impedidos de realizá-los na única oportunidade que tinham.