terça-feira, 3 de novembro de 2015

"Doces Aromas" Agnès Desarthe


Título: Doces Aromas
Autora: Agnès Desarthe
Editora: ASA

Descobri este livro por acaso numa promoção do Continente que tinha alguns livros a cinco euros. Por algum motivo, dentro das pilhas, este foi aquele que mais me chamou a atenção. Trata-se de um livro da francesa Agnès Desarthe, originalmente publicado em 2006 com o título "Mangez-moi".

Depois de ter trabalhado alguns anos como cozinheira num circo, Myriam decide abrir um pequeno restaurante num bairro típico de Paris. O restaurante chama-se "Chez Moi", porque é literalmente a casa dela, já que ela também dorme e toma banho lá. Mesmo sem saber nada sobre o que significa ter um negócio e confiando apenas no seu talento para cozinhar, o restaurante de Myriam vai aos poucos conhecendo o sucesso e com isso, algumas pessoas acabam por entrar na vida dela: Vincent, o sisudo florista, Ben, o jovem órfão que se oferece para a ajudar no restaurante, Hannah e Simone, duas estudantes de filosofia. Ao mesmo tempo, Myriam vai desvendando ao leitor as dolorosas memórias do passado: a constante tensão na relação com o marido, a complicada ligação afectiva com o filho e alguém que lança um armadilha que a levou a cometer um erro que a afastou da família e que levará muito tempo a expiar. Porém, através dos pratos que confecciona no restaurante, dos novos amigos que faz e o renascer de uma amizade antiga que se transforma em algo mais, Myriam conseguirá traçar o seu rumo até à redenção.

No geral, esta foi uma leitura simpática. Achei que por vezes, a narrativa (escrita na primeira pessoa na perspectiva de Myriam) tornava-se demasiado floreada e se calhar teria sido mais eficaz se fosse um bocadinho mais fluída e direita ao assunto. Também algumas das ligações da Myriam com outras personagens pareceram-me algo forçadas e careceram de alguma profundidade. Outro factor algo decepcionante foi que à medida que avança, a parte culinária da história vai sendo menos presente, a não ser numa das cenas finais. Ao princípio, Myriam narra extensivamente o que está a cozinhar mas depois só a espaços é que faz isso.

No entanto, gostei bastante da Myriam, da sua vulnerabilidade, da sua sinceridade e até dos seus defeitos. Consegui compreender como se deixou arrastar para o grave erro que imprudentemente cometeu, as suas hesitações e desconfianças para com as novas pessoas que entram na sua vida devido ao restaurante, a sua dicotomia entre o conforto da solidão e a necessidade de se dar aos outros, e só por isso, valeu a pena descobrir este livro.
    

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