quarta-feira, 4 de março de 2015

"O Dia Que Faltava" Fabio Volo


Título: O Dia Que Faltava
Autor: Fabio Volo
Editora: Presença

Volto a falar de mais um livro do autor italiano Fabio Volo, desta vez "O Dia Que Faltava". 

O livro fala de Giacomo, um homem que sempre viveu um pouco à deriva, marcado pela separação dos pais em criança. Afectado pela ausência do pai e pela sobreprotecção da mãe, ele nunca soube bem como medir as suas emoções. Apesar de viver rodeado de mulheres, desde a mãe e a avó às suas diversas conquistas, elas foram sempre um mistério para Giacomo. Outra mulher constante na sua vida é Silvia, com quem mantém  uma amizade duradoura e de quem é confidente dos problemas familiares que ela atravessa. Todas as manhãs no eléctrico do caminho para o trabalho, Giacomo passa a trocar olhares de interesse com uma bela desconhecida, um jogo onde ambos hesitam em dar o passo seguinte. Por fim, a desconhecida, de nome Michela, convida-lhe para um café onde lhe anuncia que no dia seguinte vai-se mudar para Nova Iorque e desafia-o a ir ter com ela num futuro próximo. Encorajado por Silvia e apesar de um mal-entendido, Giacomo decide uns tempos depois ir ter com Michela. Ao longo da semana juntos, Michela propõe-lhe um jogo para viverem intensamente o romance ao longo desses dias. Porém, uma má notícia interrompe o idílio e fá-los confrontar com a realidade.
No final temos Giacomo à espera de Michela em Paris, conforme uma última promessa feita em Nova Iorque. Será que Michela virá?

Mais uma vez, Fabio Volo escreve num registo que cria um clima de confidência com o leitor. A história é apresentada pela perspectiva de Giacomo, que nada nos oculta sobre ele: as suas qualidades, os seus defeitos, pormenores da sua intimidade (incluindo sexuais e até mesmo escatológicos), os seus medos e manias e a sua forma de amar e de seduzir. A intimidade que o leitor estabelece com Giacomo é tal que não deixamos de simpatizar com ele, apesar das suas falhas e dos seus aspectos menos agradáveis. Ou se calhar, talvez mesmo por isso.

Em comparação com o livro do autor que eu li anteriormente, "As Primeiras Luzes da Manhã", não achei este livro tão envolvente e tão emocionante. Mas em compensação, "O Dia Que Faltava" tem precisamente aquilo que achei que faltava no outro livro: uma noção mais nítida das outras personagens. Apesar do livro ser todo no ponto de vista de Giacomo, creio que fiquei com uma boa noção de como eram as outras personagens, em especial Michela e Silvia. Através delas, voltei a sentir a sensibilidade e o conhecimento de Fabio Volo sobre o universo feminino que tanto me impressionou no outro livro. 
Outro ponto que me fez gostar do livro foi da forma como me fez pensar nas relações humanas e como estas têm evoluído tanto apenas de uma geração para a outra. Giacomo, Michela e Silvia não se revêem nas convenções seguidas e defendidas pelos seus pais sobre o amor, o casamento e a condição feminina. Uma ideia expressa por Michela fez-me reflectir: não será mais honesto e realista viver uma relação amorosa fazendo promessas por um tempo determinado, sujeitas a uma possível renovação conforme o desenvolvimento dos sentimentos? 
           

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